Antigamente as gerações duravam uma década. Atualmente, dizem que dura seis anos, mas eu acho que dura só o tempo de sair uma nova versão eletrônica para a comunicação - e se comunico logo seduzo - entre homens e mulheres. A coisa começou com o tacape – método eficiente e que evitava gastos com jantares e showzinhos de pagode antes do escurinho da caverna -, passou por sinais de fumaça, pombo-correio, alcoviteiras e saraus até chegarmos às românticas e perfumadas cartas de amor.
Um grande salto foi a invenção do telefone que permitia falar as barbáries imaginadas, como o desejo de alisar o tornozelo da amada, enquanto se manipulava freneticamente a manivela. O telefone evoluiu, mas as gerações continuavam iguais. Até que, duas revoluções, e não foi a pílula, vieram modificar de forma substancial a vida sexual, causando um impacto maior do que as empregadas domésticas tiveram na nossa história, exceto, talvez, não estou bem lembrado, a minha em particular. Falo do torpedo do celular e chats de conversa nos computadores.
Os antigos devem se lembrar que assim que o e-mail foi criado Adão chamou Eva para teclarem do fruto proibido e trocar mensagens, o que resultou em muitas maçãs devoradas, porque mulher nenhuma se contenta em receber comida só uma vez. Mas ainda persistia algo do imaginário daquelas cartas escritas em nanquim, embora digitados e enviadas por modens lentíssimos.
A evolução começou com o mIrc e os e-groups para conversas coletivas e alguns hot-hot-hot papos privados, creio que alguns usuários trogloditas ainda se recordam. A partir daí, a coisa e as gerações se aceleraram, e, quando você toma pé em uma ferramenta tecnológica, tudo já mudou, fazendo com que estejamos não só duas doses abaixo do normal, mas duas gerações atrasadas. O torpedo do celular virou uma espécie de tacape sem os inconvenientes dos hematomas, e serve para abordar, marcar, dispensar, dar as desculpas perfeitas e ocultar aqueles gemidos que o telefone poderia expor, sendo hoje tão indispensável à vida sexual quanto a camisinha e o Viagra – desde que honesto como um legitimo escocês.
No computador, as possibilidades se multiplicaram e a webcam permitiu uma intimidade e exposição de profundidades anatômicas e performances jamais imaginadas. Ela se tornou quase um disque-delivery, pois quem tem uma só termina a noite no zero a zero se faltar luz ou cair o sistema, o que equivale à broxada de antigamente.
Já o MSN permitiu a sedução múltipla, como nunca antes neste país, pois há mulheres que mantém o jogo com uma centena ou mais de admiradores na sua janela, ao bel prazer de sua escolha, ou acesso, provando que, sim, vários corpos podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Além disso, surgiu o Orkut, com fotos, recados, perfis, flagrantes, egos e oportunidades de exibir o próprio corpo ou desejos a uma infinitude de olhares, facilitando a triagem entre a rede e a cama.
O terrível é quê, embora a humanidade pudesse ser dividida entre os com e os sem Orkut, muitos já estavam se integrando, quando explodiu o Twitter, Facebook, Flick e similares, fazendo com que ficassem tão defasados quanto uma carta de papel dizendo que o amor por um jardim avesso deve ser cumprido como destino e sina por um jardineiro fiel.
O “tuiter”- esclareço para os não colonizados- é multifuncional, instantâneo e curto, embora não seja grosso. O máximo que se pode digitar são 140 caracteres, o que traz a vantagem de limitar as asneiras. Alguns dizem até que usar o tuiter é como fazer sexo, não lembro bem, pois quanto mais apertado o espaço maior o prazer.
Enfim, a verdade, é que a velocidade de mudança na comunicação tem mudado profundamente as relações humanas, comerciais, afetivas e até sexuais. Os abatedouros machistas, a garconniere, foram substituídos por cômodos virtuais e as cantadas passaram a combinar o máximo de eficiência com mínimo de caracteres.
Não sei como será o amanhã. Mas durmo sempre assustado com medo de acordar, não impotente, mas obsoleto. O que dá no mesmo.