terça-feira, 22 de maio de 2007

Dia das Mães - Como reconhecer uma mãe



Uma mãe é facilmente reconhecível. Elas têm algo de pressentimento e leite. De alimento e permanência. Pois há igualdade entre bichos e humanos, borboletas e mulheres, senegalesas e inglesas, lobas e gatas, pretas e brancas, analfabetas e doutoras, camponesas e citadinas. Entre mulçumanas e cristãs, ortodoxas e ialorixás, desbocadas e religiosas, humildes e abastadas. Entre legítimas e as que não foram perdoadas. As damas e as de vida em flor. Como um decreto universal que as torna parecidas, por semelhança não escrita, por parecença de ventre, sem cor, religião, dogma, sem poderes outros que não o do corpo arrebatado de vida e mistério, de amor e fertilidade.

Uma mãe é facilmente reconhecível. Há, nela, qualquer coisa de brutal e milagroso. A força descomunal de repartir suas células em infinitas outras. Em olhos, cabelos, curvas, atitudes, gostos, gerando com sua Arca de Noé, seu cesto de cipó e veias, esteira de cordão umbilical, a passagem para outro humano. E o milagre de se repartir como cria, peito, dádiva, nas mãos, na dor de se abrir sem pudor, no parto, e beijar o filho como quem lambe o futuro e seu destino.

Uma mãe é facilmente reconhecível. Há, nela, algo de manjedoura e guia. De quem se sabe incapaz de julgamentos, de quem não abandona, não renuncia, não desiste da cria. E oferece o colo, quando vem o choro, a palavra quando vem o medo, o abrigo quando vem o desamparo, a sobrevivência quando vem a fome. De quem se lança como feiticeira a polir de encantos as pedras no caminho dos seus, a desenhar em irretócaveis traços de nuvem e delicadezas a eterna imagem e possibilidade da volta, a redimir com os olhos do afeto e perdão tudo que nos feriu, reinventando a si própria, como acalanto, apenas para que o mundo nos seja melhor.
Uma mãe é facilmente reconhecível. São todas únicas. Afinal são todas iguais.

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