segunda-feira, 29 de agosto de 2011

As coisas de Luísa

Minha filha tem idade incerta. É algo entre as fantasias da infância e a realidade de adulta. Meio distância –pois exige ser grande-, meio proximidade -pois não abre mão do afeto protetor. Tem dias que discute comigo, acaloradamente, seus textos filosóficos e sociais da escola e outros que me busca desesperadamente para não atrasar na ida ao salão, nesta difícil arte de equilíbrio entre o útil e o belo que as mulheres encarnam.

Às vezes ela me conta que economizou um torpedo de celular, noutras ataca meu cartão com a voracidade dos cupins porque precisa de uma roupa única para determinada festa. Que nem sempre vai. Já pedi que ela poupe no cartão e abuse no torpedo, mas ainda não a convenci. Pelo menos da parte do cartão.

Ela é alguma coisa de guerra e paz. Capaz de indignações beligerantes e homéricas contra uma injustiça e reparações urgentes, como um dia que ligou pedindo que alguém fosse levar uma torta em minutos, ao colégio, para comemorar o aniversário de uma colega que estava sozinha por dificuldades familiares.

Ela me lê no jornal, opina, e me acha mais do que sou, esta recompensa e benesse que a inocência da admiração lega a alma dos pais. Ela chora nos filmes e me telefona desesperada para ir logo para casa porque está vendo uma série de TV que dá medo e ela torce pro galã, ah mulheres!, e não quer ficar só. Ela promete que vai acordar um domingo bem cedo e vai pra roça comigo montar a cavalo e saber tudo do cheiro do rio e que nunca vai deixar de cuidar das árvores e do capim quando eu não passar mais de memória. Ainda não conseguimos chegar neste dia e fico tentado, seriamente, em plantar bambu.

Toda semana, quando faço feira, ele me manda uma lista de comidas condenáveis sob todos os aspectos abdominais e de saúde e ameaças terríveis se não comprar. Mas ela estuda sem ser obrigada e deixa de ir à festa porque precisa estudar e eu não tenho como negar.

Claro, ela tem vocação fotográfica, centenas de foto na net e de amigos nas redes sociais. E é multifuncional. Escreve no computador, fala no telefone, conversa via net, com a mesma pessoa. Ao mesmo tempo.

Ela me faz rir com os micos da espontaneidade e já me disse umas quinze mil coisas que são um dos seus sonhos. E me diz que precisa ir estudar em Salvador, ano que vem, porque senão será como se não tivesse crescido. E cada dia, deste ano, se faz uma longa e doída despedida, que o mundo é menos mundo sem ela no cotidiano. Mas lembrarei que fomos juntos a todas as Micaretas, inventamos lendas, que vi vários shows de sertanejo por ela e que a ensinei a andar numa bicicleta alugada, numa ruazinha a meia-noite, na levemente fria Paris.

Às vezes, grande, diz que vai pra balada, mas, às vezes, pequena, como esta semana, vem dormir em minha cama. Com seu jeito expansivo botou a perna por cima e me deu a mão, por vontade, ou acaso, não sei, na madrugada. Acordado, fiquei imóvel para que a forma não se desfizesse e o encanto durasse. Deus, por motivo absolutamente inexplicado, manteve-me respirando depois disso.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

INDIGNAÇÂO - Reage Cidadão

Campanha do Jornal Tribuna Feirense. Texto nosso e produção do anúncio de Xiko Melo da Mercado


O brasileiro precisa indignar-se se não quiser que o futuro chegue tarde demais. É histórico que avanços e retrocessos, em todos os campos, são cíclicos. O avanço da economia, associado aos péssimos, ainda, índices de educação e informação que afeta a maioria - uma contradição em si, diante da expansão da comunicação - estão se tornando um salvo-conduto para um dos mais graves momentos de degradação da prática política, administrativa e institucional do país. Seja no âmbito municipal, estadual ou federal.

A ascensão de um governo que representava a esquerda - ou uma esperança de esquerda - aos vícios mais torpes do poder contribuiu de forma relevante para agravar a deterioração da práxis política. A defesa intransigente e simbólica que seu líder maior - o ex-presidente Lula - faz dos que cometeram erros morais, o constante incentivo do desrespeito à lei e à Constituição, à história, além da leniência e compactuação com as mais atrasadas lideranças - cumplicidade que não pode ser justificada pela governabilidade de um Presidente que detinha recordes de aceitação popular-, envenenam a Sociedade.

A sensação de que os Códigos de Leis são incapazes de produzir punição real e recuperar recursos roubados aos borbotões funciona como alento ao que usurpam o poder em benefício próprio. Além disso, a compra dos movimentos sociais com generosas verbas - da UNE ao MST e Centrais Sindicais- eliminou forças que sempre estiveram na linha de frente das cobranças e eram mobilizadoras da indignação popular.

A opção pela alegria, seja como for, e não pelo enfrentamento, tão típico da alma do brasileiro, a sensação que o resgate social promovido pelas migalhas dos planos assistenciais representa grande avanço e o destaque do Brasil no cenário mundial, vendido como um espetáculo do crescimento, não podem mascarar o descontrole do Estado e a quase completa destruição do papel do Senado e da Câmara como espaço perene de ação política.

O brasileiro precisa compreender que a política, como ciência, como caminho para construção da nação, é sua responsabilidade. Não podemos compactuar com governos corruptos, incapazes administrativamente, que estupram sigilos, saqueiam o futuro de nossas famílias, e o presente de nossas vidas. Precisamos reagir, expulsar, das Câmaras, das Prefeituras, das Assembleias, dos Governos, do Poder Central, políticos que ficariam melhores no cárcere que exercendo mandatos. Para isso, necessitamos de Polícia sem manipulação, leis mais ágeis e exigir resolutividade do Judiciário.

Não podemos aceitar o aparelhamento improdutivo da máquina pública, nem as sofisticadas quadrilhas, de qualquer matiz, que roubam nossos impostos e serviços, e nos espoliam sempre mais, insaciáveis. Temos de acusar e apontar nas ruas aqueles mercadores que fazem da política, barganha, trapaceiros que curvam a coluna ao dinheiro e às ambições.

Devemos repudiar partidos que se estruturam como lojas de vender convicções e buscar identidade ideológica, mínima ao menos, pois sua falta tem produzido apenas servilismo e adesismo oportunista. Precisamos enfrentar o autoritarismo que tenta amedrontar e punir a falta de coerência com a recusa ao voto.

Não podemos nos acomodar ao desalento da falta de opções. Lembrem-se, brasileiros, que somos responsáveis pelo país, cidade, qualidade de vida que vamos legar aos filhos, e pelas facilidades e custos que eles encontrarão. E a vida os punirá se formos omissos agora.

Jovens, precisamos de homens. Estejam à altura para escolherem o país que querem ter. Pais, sejam exemplos. Não podemos ceder, nem ficar indiferentes. Vamos nos indignar e mostrar que ética, caráter, honra e honestidade ainda são motivo de orgulho. Por minha aldeia melhor, por um Estado eficaz, por um Brasil maior.