Que foice e machado nada, a verdadeira revolução mundial é vesical. Ou melhor, como direi, peniana ao invés de freudiana. O fato é que nossos indômitos governantes acabam de tomar atitude injustamente ainda não reconhecida pela sisuda Academia de Estocolmo com o prêmio Nobel. Os prefeitos do Rio e Salvador, que andavam caindo pelas tabelas, decretaram um choque de ordem nos genitais despudorados que andavam a destruir monumentos e sujar as ruas. A partir de agora quem for pego com a mão na massa, quer dizer com a mão no criminoso, ou mesmo sem a mão, mas com o terrorista urbano a solta fazendo xixi na vias públicas, será preso. Sem fiança. No Rio, 49 mijões, o que, reconheça-se, é uma taxa baixa, menor que dos assaltos a bancos e batedores de carteiras, já foi presa neste fim de semana.
Em Salvador, que tem ritmo próprio, ainda não foi iniciada a Operação Genital. Ao que parece, frenéticas reuniões na Prefeitura tem sido realizadas para definir as brigadas de voluntários e como será feita a abordagem do meliante. Ainda não há consenso na PM se o réu deverá ser algemado, se o ato deve ser interrompido ou a Polícia deve assistir passivamente o fim do gesto criminoso, e se deve ficar de olho no bandido ou disfarçar para não ser acusado de violência, coerção moral e similares. Também não está definido como agirá a Tropa de Choque se o sujeito se sentir inibido com a platéia toda armada e não conseguir completar a ação: se ela dará um tapinha nas costas de apoio ou se vai dar uma voltinha.
Um das ações que está prevista no decreto governamental é a realização do retrato falado de eventuais membros fugitivos. A Corporação tem reagido a idéia de ser testemunha no Tribunal e descrever diante do corpo de jurados e do público o calibre da arma e os pormenores de fluxo, velocidade, ângulo do disparo do jato, visto que tudo isto pode levar a identificação do verdadeiro transgressor e a liberdade de um “peru” ou uma “perereca” inocente. Afinal, não vamos esquecer, mulheres também tem rim.
Ainda não há consenso entre o MP e delegados como será a reconstituição do delito, em caso de dúvidas, e se a ingestão obrigatória de água para tal fim não invalidará a prova visto ter sido obtida, de certa forma, sob tortura. Cogita-se, aliás, como tem sido praxe nos governos atuais, de cercear o direito da imprensa de transmitir a reconstituição e filmar o réu, como se não fosse mais indecente o que já se transmite nos discursos políticos.
A Policia já alertou que não tem efetivo para cumprir a função o que vai levar a Prefeitura a criar seu próprio grupo de funcionários realizando concurso para Fiscal de Pinto (perdoem-me senhoras), gerando emprego e renda e provando que urinar ajuda a desenvolver a economia que, enfim, vai sair desta dicotomia de axé e desfile de escola de samba. Ao que parece a seleção dos novos agentes exigirá boa acuidade visual e agilidade para segurar, digamos, o touro a unha, caso o delinqüente, na maioria das vezes minúsculo, essa é a realidade e cada um sabe da sua, tente se esconder na toca da calça.
Está previsto que no carnaval, quando o crime prolifera, as mulheres serão alvo de ação especial visto que costumam agir em bandos que fazem uma rodinha enquanto a bandidona executa sua ação, por vezes abaixada e escondida pelo vestido ou abadá. Enfim, a Sociedade Civil não pode ficar de fora do progresso. Seja você também um fiscal da moral pública e não tire o olho da braguilha ou sainha alheia. Ali pode se esconder um foragido da justiça. Avante Brasil.
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