segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

As rosas proibidas



O século XX tem aí entre 1950 e 2000 o que considero os melhores cem anos da Modernidade. As grandes transformações comportamentais, da pílula à mini-saia, da variedade sexual à emancipação feminina, da revolução musical ao pouso na lua. Das descobertas e ações impactantes na saúde à avalanche de mudanças causadas pelos avanços da comunicação, do computador ao Iphone, da afirmação dos direitos individuais à globalização e falência dos modelos políticos, este século de cinqüenta anos não deixou pedra sobre pedra.


Evidente que a tecnologia assume a dianteira do progresso indo da nanotecnologia ao desnudamento do Genoma e a brincadeira, inevitável, de “Deus”, que desponta com o iceberg das células-tronco. Mas, certamente, a navegação de mais longo curso, visceral e reveladora, deu-se na política e nos costumes.


Na política a falência dos modelos ideológicos que preencheram corações e mentes no pós-guerra - o comunismo na brutalidade da anulação individual arrastando milhões de mortos, e o capitalismo na selvageria do lucro sem limites, excludente de outros milhões-, serviu como alívio e esperança a quantos se enredavam em seus calabouços e muros e sobreviviam à boca do alçapão. Nos costumes, entretanto, é que as velas se abriram a todos os ventos. Assim que a mulher assumiu a liberdade de exibir o corpo de forma cada vez mais ostensiva e sem culpas e ganhou o salvo conduto para o sexo sem riscos que foi a pílula, a gangorra da repressão começou a se desequilibrar. As artes e a efervescência cultural criaram um novo “caldo cósmico” no qual a vida se recriou encontrando suas múltiplas formas de manifestação.


Mas ambos os caminhos exigem liberdade para sua completa realização, individual, ou coletiva. Assim, por um lado, a democracia, ainda que por imposição econômica, e, por vezes, ameaçada, tornou-se um bem da banda civilizada. Por outro, o indivíduo, como um soberano, delimitou sua existência como o território de seu reinado, por vezes com muralhas intransponíveis. Apesar disto não apeamos universalmente de nossas antigas montarias, pois igualar-se no poder, ou no indivíduo, exige compartilhar, abrir mão da dominação, da satisfação pessoal, que por vezes só é conseguida suprimindo, cruelmente, ou egoisticamente, a do outro.


Nem em todos os lugares, ou pessoas, a lua é um tear de memórias, os amores se reúnem em embornal de lembranças impagáveis e fazem suas celebrações se converterem em rituais de sal e promessas. De posse e permanência. Entrega e perdição. Agora mesmo, na Arábia, o governo proibiu que rosas vermelhas fossem vendidas e enviadas para comemorar o Dia dos Namorados.
A liberdade não pode ser uma pétala que cede e cai e o poder não tem o bárbaro direito de criar aceiros para a única, derradeira função de homens e mulheres, que é amar furiosamente uns aos outros.


Por isso, porque amanhã ela pode ser incerta, semeia hoje, em teus jardins, ainda que avessos, como um jardineiro fiel, as rosas proibidas da mulher desejada.

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