sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Amores Eletrônicos


Antigamente as gerações duravam uma década. Atualmente, dizem que dura seis anos, mas eu acho que dura só o tempo de sair uma nova versão eletrônica para a comunicação - e se comunico logo seduzo - entre homens e mulheres. A coisa começou com o tacape – método eficiente e que evitava gastos com jantares e showzinhos de pagode antes do escurinho da caverna -, passou por sinais de fumaça, pombo-correio, alcoviteiras e saraus até chegarmos às românticas e perfumadas cartas de amor.

Um grande salto foi a invenção do telefone que permitia falar as barbáries imaginadas, como o desejo de alisar o tornozelo da amada, enquanto se manipulava freneticamente a manivela. O telefone evoluiu, mas as gerações continuavam iguais. Até que, duas revoluções, e não foi a pílula, vieram modificar de forma substancial a vida sexual, causando um impacto maior do que as empregadas domésticas tiveram na nossa história, exceto, talvez, não estou bem lembrado, a minha em particular. Falo do torpedo do celular e chats de conversa nos computadores.

Os antigos devem se lembrar que assim que o e-mail foi criado Adão chamou Eva para teclarem do fruto proibido e trocar mensagens, o que resultou em muitas maçãs devoradas, porque mulher nenhuma se contenta em receber comida só uma vez. Mas ainda persistia algo do imaginário daquelas cartas escritas em nanquim, embora digitados e enviadas por modens lentíssimos.

A evolução começou com o mIrc e os e-groups para conversas coletivas e alguns hot-hot-hot papos privados, creio que alguns usuários trogloditas ainda se recordam. A partir daí, a coisa e as gerações se aceleraram, e, quando você toma pé em uma ferramenta tecnológica, tudo já mudou, fazendo com que estejamos não só duas doses abaixo do normal, mas duas gerações atrasadas. O torpedo do celular virou uma espécie de tacape sem os inconvenientes dos hematomas, e serve para abordar, marcar, dispensar, dar as desculpas perfeitas e ocultar aqueles gemidos que o telefone poderia expor, sendo hoje tão indispensável à vida sexual quanto a camisinha e o Viagra – desde que honesto como um legitimo escocês.

No computador, as possibilidades se multiplicaram e a webcam permitiu uma intimidade e exposição de profundidades anatômicas e performances jamais imaginadas. Ela se tornou quase um disque-delivery, pois quem tem uma só termina a noite no zero a zero se faltar luz ou cair o sistema, o que equivale à broxada de antigamente.

Já o MSN permitiu a sedução múltipla, como nunca antes neste país, pois há mulheres que mantém o jogo com uma centena ou mais de admiradores na sua janela, ao bel prazer de sua escolha, ou acesso, provando que, sim, vários corpos podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Além disso, surgiu o Orkut, com fotos, recados, perfis, flagrantes, egos e oportunidades de exibir o próprio corpo ou desejos a uma infinitude de olhares, facilitando a triagem entre a rede e a cama.

O terrível é quê, embora a humanidade pudesse ser dividida entre os com e os sem Orkut, muitos já estavam se integrando, quando explodiu o Twitter, Facebook, Flick e similares, fazendo com que ficassem tão defasados quanto uma carta de papel dizendo que o amor por um jardim avesso deve ser cumprido como destino e sina por um jardineiro fiel.

O “tuiter”- esclareço para os não colonizados- é multifuncional, instantâneo e curto, embora não seja grosso. O máximo que se pode digitar são 140 caracteres, o que traz a vantagem de limitar as asneiras. Alguns dizem até que usar o tuiter é como fazer sexo, não lembro bem, pois quanto mais apertado o espaço maior o prazer.

Enfim, a verdade, é que a velocidade de mudança na comunicação tem mudado profundamente as relações humanas, comerciais, afetivas e até sexuais. Os abatedouros machistas, a garconniere, foram substituídos por cômodos virtuais e as cantadas passaram a combinar o máximo de eficiência com mínimo de caracteres.

Não sei como será o amanhã. Mas durmo sempre assustado com medo de acordar, não impotente, mas obsoleto. O que dá no mesmo.

2 comentários:

Unknown disse...

Você, como sempre, desvendando espaços no tatear das palavras. Aliás, de tudo, eu que o diga.

beijos mil.

Lia Sergia Marcondes disse...

O curioso, nisto tudo, é que a mesma banalização do sexo que vemos por aí, se reflete igualmente (ou mesmo em maior escala), no universo virtual.

Como te contei, eu nunca acreditei que qualquer pessoa pudesse realmente gostar de alguém que conheceu apenas pela internet... Para mim, isto era apenas um meio de as pessoas compensarem suas carências (fossem ela quais fossem). Até que, um belo dia, num fórum sobre RELIGIÃO, fiz amizade com uma pessoa que, dois anos depois, tornou-se meu namorado e com quem estou casada há quase um ano.

Por isto, nada de falar "desta água nunca beberei"... Porém, assim como nunca fui a favor de "sexo casual" e de toda esta "promiscuidade permitida" que observamos na sociedade atual, também não sou a favor de todo este exibicionismo sexual via internet, bem como não acho saudável que as pessoas tentem suprir suas carências em pseudo-relacionamentos via internet. Até porque, pelos relatos que eu ouço por aí, uns 90% dos que passam horas no msn/chats/etc trocando mensagens e fotos picantes com não sei quantas pessoas ao mesmo tempo, no fim sempre terminam dormindo sozinhas.

Abraços!! :)