segunda-feira, 3 de setembro de 2007

É proibido proibir




Longe de mim meter-me nos balacobacos filosóficos e similares que envolvem o conceito de liberdade, mas desde que alguém subiu o monte bíblico e teve uma epifania divina que o proibido entrou para nosso dia a dia. Verdade que as pedras da lei apenas deram boas idéias e nunca impediram ninguém de cobiçar a mulher do próximo, desde os tempos em que era o homem que cobiçava.

A liberdade é uma idéia em nome da qual milhões tem morrido e crimes bárbaros têm sido cometidos. É necessidade inalienável do humano, embora, nem sempre saibamos perceber quando estamos sendo encarcerados subliminarmente ou até mesmo de forma extensiva e ela só se torne perceptível na ausência.

O dado concreto é que nossas escolhas estão sendo manipuladas por interesses dos mais diversos: econômicos, coletivos, de grupos, políticos, de classe, o que nos faz crer que o verdadeiro preço da liberdade é a eterna desconfiança.

Pois foi sabendo que a vaca da liberdade estava sempre a um passo de ir para o brejo que, em 68, os estudantes da Sorbonne e da Naterre botaram fogo, literalmente, no carro da história e fizeram uma revolução, sem programa, ou como diziam, sem deus nem mestre, implantando, de forma irreversível, em nosso imaginário, o proibido proibir, que afinal virou trilha sonora ao ser musicado por Caetano.

Embora a liberdade de expressão seja um preceito básico das democracias e seu direito seja defendido pela Declaração Internacional dos Direitos Humanos e Convenção Européia de Direitos Humanos, e a Constituição, a simbiose de preconceitos e interesses tem, seguidamente, violado e limitado o exercício da cidadania e das opções sexuais, políticas e do direito de opinião da coletividade.


Apesar de Kant dizer que ser livre é ser autônomo e Sartre afirmar que a liberdade é condição ontológica do ser humano sendo este, antes de tudo, livre, vivemos um permanente estado de insegurança e medo de exercer o sacro e vital direito da discordância e da fala.

No governo passado fomos ameaçados com a tentava de impor o pensamento único que classificava de noebobos os opositores. Agora se apela para a manipulação desavergonhada de qualquer critica feita ao governo, como se a origem humilde do presidente fosse um salvo conduto, um habeas-corpus divino e eterno e discordar, cobrar, criticar tenha que ser demonizado em nome de um passado que a cúpula destes dirigentes já não tem, faz muito tempo.

Exemplo deste cerceamento é o movimento Cansei e as vaias que acompanham o presidente. Podemos não confiar nos lideres do movimento, ou não gostar do ato dos estudantes, mas a violenta reação contra o Cansei e os estudantes acusados de falta de consciência representam a necessidade de uma unanimidade que, como todas, é apenas burrice.

A opinião divergente seja de quem é meramente opositor, ou de quem não tolera a opção política, a inapetência administrativa, a impunidade, os mensalões, o caos aéreo, e o aparelhamento do estado, devem ser respondidas com ações e não com tentativas agressivas de menosprezo.


Não custa lembrar que preconceito não é via de uma mão só, nem privilégio de classe. Mas, como já dizia Einstein, é mais fácil desagregar um átomo do que os preconceitos. Prefiro ouvir Caetano...

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